MARIA, A CEIFEIRA(IMITAÇÃO DE UHLAND)«Bons-dias, Maria: da lida do prado«Nem mesmo te afastam cuidados d'amor,«Se ao fim de três dias mo deixas ceifado«A mão do meu filho te quero propor.»Promessa é do rico, soberbo rendeiro:Maria, oh! quão ledo seu peito bateu!Seus olhos brilharam, seu braço ligeiroMais forte nas messes a foice moveu.Soou meio-dia: que ardente secura:Já todos demandam a fonte, o pinhal;Somente nos ares a abelha murmura:Maria não pára, que é sua rival.O sol esmorece, bateram trindades:Debalde o vizinho lhe grita: bastou!Zagais e ceifeiros se vão às herdadesMaria, coa foice, lidando ficou:O orvalho desliza; desponta a seu turnoA estrela no espaço, na selva o cantor;Maria, insensível ao bardo nocturno,A foice incansável agita ao redor.Os dias e as noites assim por tais modos,Nutrida d'amores, mal sente passar,Três dias findaram: oh! vinde ver todosMaria ditosa d'esp'rança a chorar.«Bons-dias, Maria; já tudo ceifado!«Lidaste deveras: a paga hás-de ter.«Enquanto a meu filho, foi graça o tratado;«Quão loucos e simples o amor nos faz ser!»Tal disse, e passava... no peito constante,Ai pobre Maria, que transe cruel!Teu corpo formoso tremeu vacilante,E exausta caíste, ceifeira fiel.Um ano a coitada, sozinha consigo,Vivendo de frutos, vagou sem falar...No prado mais verde cavai-lhe o jazigo:Ceifeira como esta jamais heis de achar.Soares de Passos
"Que dúvida, que dívida, que dádiva / Que duvidávida afinal a vida." ( David Mourão-Ferreira ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . "Caminante, no hay camino, / se hace camino al andar." ( António Machado ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . "Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes." ( Ricardo Reis ~ Fernando Pessoa )
sábado, 4 de julho de 2009
Poema "MARIA, A CEIFEIRA", Soares de Passos
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário