terça-feira, 30 de junho de 2009

Poema "A estrada que não foi seguida" - "The road not taken", Robert Frost


Versão traduzida para português por José Alberto Oliveira:


A estrada que não foi seguida

Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava,
Quando se perdia entre os arbustos;

Depois tomei a outra, igualmente bela
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora, na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,

E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabendo como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.

É com um suspiro que agora conto isto,
Tanto, tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu -
Eu segui pela menos viajada
E isso fez a diferença toda.

Robert Frost
(Trad.: José Alberto Oliveira)


Versão original (em inglês):


The road not taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I --
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost

domingo, 28 de junho de 2009

Wolfram|Alpha - motor de busca inovador - a computação do conhecimento ao alcance de todos


O Wolfram|Alpha (um produto recente da Wolfram) é um motor de pesquisa inovador, surpreendente e ambicioso que pretende tornar a computação de todo o conhecimento do Mundo ao alcance de todos.
Basta escrever a questão/problema em linguagem corrente, não é preciso (embora também se possa) usar uma linguagem técnica. Podem-se introduzir desde as questões mais simples (ex: apenas um nome dum país ou pessoa) até às mais complexas (cálculos matemáticos). As questões podem ser das mais diversas áreas, Ciência, Cultura, Economia, História, Música, etc. É claro que o Wolfram|Alpha não consegue responder a tudo (e ainda parece só funcionar em inglês), mas consegue coisas verdadeiramente surpreendentes.
Com isto tudo, não me admirava se o Wolfram|Alpha viesse a ter tanto sucesso como a Wikipedia ou a Google!

A primeira impressão que tenho (também só conheci o Wolfram|Alpha agora) é que a novidade do Wolfram|Alpha está na combinação de:
- uma rápida aplicação de internet;
- que (através das técnicas adequadas) consegue reconhecer uma pergunta escrita em linguagem corrente e transformá-la num problema matemático/computacional;
- para depois aceder a diversas bases de dados de todo o Mundo e recolher as informações potencialmente úteis e necessárias;
- e, finalmente, usar o Mathematica (o principal produto da Wolfram, com mais de 20 anos de experiência), para fazer os cálculos computacionais e apresentar as respostas/resultados potencialmente interessante;
- e isto tudo num piscar de olhos!

Posto isto, e depois de revelar a minha admiração por esta "nova tecnologia", convém ressalvar que o Wolfram|Alpha, embora possa ser uma ferramenta muito útil, não é a solução para todos os nossos problemas, porque:
- antes de fazer uma pergunta é preciso saber o que se quer perguntar!;
- e depois de saber o que se quer perguntar é preciso saber qual é a melhor forma de colocar/enquadrar/definir a pergunta (e aqui não falo da sintaxe, mas sim dos conceitos)!;
- e depois de definida a pergunta, ao tentar respondê-la, usando informações e técnicas matemáticas/computacionais já existentes, é preciso saber da natureza dessas informações e desses métodos para confirmar se são adequados/aplicáveis à nossa questão (toda a informação e todos os métodos têm o seu domínio de aplicabilidade, fora do qual não são válidos!);
- e depois de obtidos os resultados computacionais, é preciso saber interpretá-los, compreendê-los, fazer sentido deles!;
- e, finalmente, será todo este conjunto (dados e métodos usados, resultados obtidos e sua interpretação), que será a resposta à nossa pergunta!
(E assim, sem querer, quase que resumi a essência do método científico! Faltaria apenas acrescentar que: uma pergunta nunca tem uma resposta definitiva, pode sempre surgir uma nova resposta que, sendo mais correcta/completa, substitui a antiga; e que cada resposta a uma pergunta aumenta o nosso conhecimento e suscita na nossa curiosidade ou na nossa necessidade nova(s) pergunta(s) que nos levam a recomeçar todo o processo!)

Esta ressalva parece-me ser válida não só para o Wolfram|Alpha, mas também para todas as outras ditas "novas tecnologias" que às vezes parecem prometer milagres: sejam as "high throughput technologies" em ciência, ou as "novas tecnologias" no ensino, ou as "novas" e as mesmo "não tão novas tecnologias" que usamos no nosso dia-a-dia! No entanto, infelizmente, parece que há pessoas que não têm esta ressalva em mente!

Agora, depois de (também) terem lido o meu "sermão", o melhor mesmo será experimentarem por vocês próprios o Wolfram|Alpha: http://www03.wolframalpha.com/ (eu também já o acrescentei neste blogue - barra do lado esquerdo!).

Poema "Para ser grande, sê inteiro: nada", Ricardo Reis



Para ser grande, sê inteiro: nada

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis
(heterónimo de Fernando Pessoa)

sábado, 27 de junho de 2009

Fado dançado com Tango (ou vice-versa), vídeos extraordinários


Juan Capriotti e Graciana Romeo dançam o "Fado do Campo Grande" (música: António Vitorino d'Almeida), interpretado pelo Quarteto Dzvin, na Gala "Juntos na diversidade" - Ano Europeu do Diálogo Intercultural (Teatro Camões, Lisboa), no dia 18 de Dezembro de 2008 :



Fernando Jorge e Alexandra dançam o Fado "Cansaço" (interpretação: Amália Rodrigues, Composição: Joaquim Campos / Luís Macedo), no III Festival Internacional de Tango do Porto, em 2008 - "Fado bailado con tango o viceversa":



Juan Capriotti e Graciana Romeo dançam o Fado "Sopra demais o vento" (interpretação de Camané, poema de Fernando Pessoa), no Festival Internacional de Tango de 2005:



Fadonga - o (único) sítio onde se pode dançar o Fado (cantado ao vivo) com Tango! A próxima Fadonga é hoje à noite (post anterior: Fadonga no Teatro Ibérico, Sábado, 27 Junho, 23:00h):


Fadonga no Teatro Ibérico, Sábado, 27 de Junho, 23:00h



Fadonga

Sábado, 27 de Junho de 2009, 23h00

Teatro Ibérico, Lisboa

Preço: 6 euros

Para quem ainda não conhece, eu diria que uma Fadonga é uma Milonga de Fado, onde o Fado, cantado ao vivo, é dançado com a técnica do Tango. A Fadonga é por isso um evento único, onde se pode ouvir, ver dançar e/ou dançar o Fado. Infelizmente as Fadongas são um pouco raras, só acontecem uma vez por mês. A próxima é hoje à noite!

Vejam o convite para esta Fadonga no blogue da Fadonga, onde poderam encontrar também todas as informações sobre a Fadonga: http://www.fadonga.blogspot.com/.


Poema "Sábados", Jorge Luis Borges



Sábados


Lá fora há um ocaso, obscura jóia

engastada no tempo,

e uma recôndita cidade cega

de homens que não te viram.

A tarde cala ou canta.

Alguém descrucifica os anseios

cravados no piano.

Sempre a abundância da tua beleza.


A despeito do teu desamor,

a tua beleza

prolonga o seu milagre pelo tempo.

A felicidade mora em ti

tal como a Primavera num folha nova.

Não sou quase ninguém,

sou apenas o anseio

que se perde na tarde.

Em ti mora o prazer

tal como a crueldade nas espadas.


Carregando as persianas vem a noite.

Na sala tão severa, como cegos,

Procuram-se uma à outra as nossas solidões.

Sobreviveu à tarde

a brancura gloriosa da tua carne.

No nosso amor há uma pena

parecida com a alma.


Tu

que ainda ontem eras só toda a beleza

és agora também todo o amor.


Jorge Luis Borges


Fonte: Livro "Fervor de Buenos Aires" (1923).


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vídeo "Milonga na Estação do Rossio 24 Junho 2009", em complemento ao meu post anterior


Nem de propósito, depois de escrever ontem (25 de Junho de 2009) o post Um resumo das Milongas do Tango Na Rua (em vídeos), o Tango Na Rua (TNR) publicou hoje um novo vídeo. Um vídeo da Milonga na Estação do Rossio que aconteceu mesmo anteontem ("Milonga na Estação do Rossio 24 Junho 2009"). Por isso, em jeito de complemento ao meu post anterior, aqui vos deixo o vídeo, que tem uma melhor qualidade de imagem e uma maior duração que os anteriores:


E, uma vez mais, aqui deixo o meu Bem Haja a todos os organizadores e participantes das Milongas do TNR que, pela sua dedicação ao Tango, as tornam em eventos únicos e extraordinários!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um resumo das Milongas do Tango Na Rua (em vídeos)


Aqui fica um pequeno e subjectivo resumo das Milongas do Tango Na Rua (TNR), em vídeos, dirigido, sobretudo, àqueles que muito me ouvem falar delas mas ainda não as conhecem. (Nota: eu não pertenço à organização do TNR e, como já disse, este é um pequeno e subjectivo resumo).

As Milongas do TNR costumam acontecer à noite, numa "qualquer" rua de Lisboa que tenha um piso que convide os sapatos a dançar e que, de preferência, tenha um bom ambiente e uma bela vista. Exemplos são o Miradouro das Portas do Sol (vídeo "Milonga nas Portas do Sol XXXIII - 2") e o Largo do Carmo (vídeo "Milonga no Largo do Carmo XXXI"):



Por vezes acontecem Milongas à tarde, como a do Jardim da Estrela (vídeo "Milonga no Coreto do Jardim da Estrela"):


Quando o tempo expulsa o TNR da rua (Inverno, Outono e início da Primavera), as Milongas do TNR acontece de baixo de um "qualquer" tecto simpático/amigo. Exemplo foi a Milonga número 50 (vídeo "Tango na Rua : Milonga 50") - no vídeo é possível ver alguns dos principais responsáveis pela existência do TNR (a partir o bolo).


A qualidade dos vídeos não é a melhor, mas espero que tenham dado para perceber que as Milongas do TNR são encontros livres e gratuitos onde os amantes do Tango (desde os profissionais, passando pelos amadores, até aos principiantes) se reúnem para dançar o Tango. Mas o melhor mesmo, será passar por uma das Milongas do TNR para ouvir, ver dançar e/ou (experimentar) dançar o Tango.

Não tendo uma regularidade fixa, as Milongas do TNR costumam acontecer uma vez por semana. O dia da semana também não é fixo, mas o mais comum é a quarta-feira. Para mais informações sobre o Tango Na Rua e as suas Milongas (agenda, vídeos, fotos, filosofia, ...) vejam o blogue: http://tangonarua.blogspot.com/.

Para terminar, aqui fica o meu Bem Haja a todos os organizadores e participantes das Milongas do TNR que, pela sua dedicação ao Tango, as tornam em eventos únicos e extraordinários!

PS: Vejam também o próximo post: Vídeo "Milonga na Estação do Rossio 24 Junho 2009", em complemento ao meu post anterior.

sábado, 20 de junho de 2009

O primeiro post - Acerca do blogue


duvidavidando? (Sobre o título do blogue)

O título do blogue, "duvidavidando - andando pela duvidávida", é inspirado em dois poemas, o poema "Eco da anterior" de David Mourão-Ferreira:

Eco da anterior

Que dúvida, que dívida, que dádiva
Que duvidávida afinal a vida

David Mourão-Ferreira

e o poema "Campos de Castilla" de António Machado:

Campos de Castilla

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar

António Machado

Porquê? e Para quê? (As razões e os objectivos deste blogue)

Criei este blogue com a intenção de:
  • Reunir as coisas interessantes que vou encontrando. Os temas que mais me interessam são:
- Literatura, Poesia;
- Música, Dança: Fado, Tango, Danças Tradicionais, Blues, Ginástica Rítmica;
- Ciência, Física, Biologia, Matemática;
- Cartoon, Fotografia, Pintura, Escultura;
- Política, Educação, Desenvolvimento Sustentável.
  • Manter contacto com os meus amigos, que andam cada vez mais dispersos (no espaço e no tempo), e que, por isso, também já podiam criar um blogue! O meu, finalmente, já está aqui!:)
  • Praticar a escrita (em português), que anda um pouco enferrujada.
  • E, eventualmente (haja tempo e energia), expressar algumas das minhas ideias.

Como? (Sobre a Filosofia de escrita dos posts)

Acima disse/escrevi que é minha intenção reunir aqui as coisas que eu achar interessantes. Por coisas interessantes quero dizer as coisas que me transmitem alguma mensagem (ideia, sentimento) forte. Isto não quer dizer que sejam apenas coisas com as quais eu concorde, podem ser também coisas que eu duvide, ou até mesmo discorde.
Por isso, a minha filosofia de escrita dos post será primeiro apresentar (essas tais coisas) e só depois comentar para que cada um possa ver primeiro e criar a sua própria interpretação/opinião. Depois, se quiserem, poderão ler o meu comentário - isto se eu achar que o devo escrever! Há coisas que, por principio, acho melhor não comentar, como por exemplo poemas.
Devido aos meus ímpetos de perfeccionismo, acabo sempre por alterar/corrigir alguns posts. Mas, em geral, são só alterações de forma (não de conteúdo).


Bem hajam pela vossa leitura!