quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pina Bausch (1940-2009) ... "a expressar melhor aquilo que nos move".


Confesso a minha ignorância, não conhecia a bailarina e coreógrafa Philippine "Pina" Bausch. Só fiquei a conhecê-la com a noticia da sua morte (30 de Junho de 2009):

- Morreu Pina Bausch (1940-2009) - Coreógrafa alemã Pina Bausch, amada pelo público português, desaparece vítima de cancro.
- Pina Bausch: "Eu sou só eu" - A bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch não deixa sucessão possível para a sua dança única.

Estive a pesquisar um pouco sobre a sua pessoa e o seu trabalho e aqui ficam uns excertos dumas entrevistas ao Expresso e alguns vídeos disponiveis no youtube que achei interessantes.


Aguns excertos da entrevista Um país imenso de Pina Bausch ao Expresso (publicada na edição do Expresso de 9 de Janeiro de 2003):

...

Expresso: Em estúdio, os materiais de trabalho são transformados em propostas e em perguntas que faz aos bailarinos...
Pina Bausch: Não são simples perguntas.

Expresso: Sugestões de situações...
Pina Bausch: Sim, ver o que eles sentiram com determinadas coisas... aí faço cem ou mais perguntas sempre relacionadas com temas. Elas inserem-se num círculo temático do qual vai saindo algum material mas que ainda não se parece com nada. As propostas são tão simples como directivas para fazer fazer, jogar, correr, coisas que talvez depois apareçam nas peças.

Expresso: Em que espécie de estrutura insere essas respostas?
Pina Bausch: Esse é um capítulo completamente diferente que tem a ver com a ordenação das coisas que se encontraram e que dão origem a novas perguntas e a novas ideias. Essa é a parte da composição que muitas vezes é constituída por detalhes muito pequenos. Mas isto começa assim e eu não sei exactamente para onde segue, depois abandono essa sequência e dedico-me a outra. É como se houvesse uma data de pontos isolados que eu vou aumentando, depois começo por juntar dois destes pequenos blocos, experimento se deve ser de um modo ou de outro, qual primeiro ou depois, é um processo de muito, muito trabalho de experimentação.

Expresso: Passa por uma fase em que tem à sua frente uma grande colecção de materiais?
Pina Bausch: Sim. E depois deito fora.

Expresso: Quantos espectáculos é que ficam no que deita fora?
Pina Bausch: Talvez utilize nos espectáculos cinco por cento de tudo o que experimento. Talvez cinco por cento. Mas recomeço sempre do zero.

...

Expresso: Como é que surge assim agora, com esta força positiva?
Pina Bausch: Talvez venha da vida. Eu própria me admirei com o resultado da peça de Lisboa...

Expresso: Existe uma dança que é mais feliz que outra?
Pina Bausch: Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é que é sempre "no momento" e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança. É fabuloso, é sempre única, não se pode repetir. Nunca se sabe o que poderá ser reconstituído de uma apresentação de dança. Extraordinário é o teatro, o público, as pessoas sobre o palco, a música, mas é tudo único de cada vez.

...

Expresso: Uma tautologia: existe alguma separação entre o trabalho e a vida?
Pina Bausch: Não conseguiria separar, eu sou só eu.


Um excerto da entrevista Pina Bausch: um festival de dança-teatro de Pina Bausch ao Expresso (publicada na edição do Expresso de 25 de Abril de 2008):

...

Expresso: Há a opinião de que a sua identidade como artista surge em meados da década de 1970, com peças que juntavam a música de Kurt Weill e os textos de Bertolt Brecht, como "The Seven Deadly Sins" (1976). É possível, hoje, dizer qual é a herança que deixa relativamente à transformação da dança?
Pina Bausch: Estive sempre tão ocupada a trabalhar que não tinha consciência do que significava o que fazia. Nem tinha oportunidade de ver outras coisas. De qualquer modo, quando estou a fazer um trabalho, nunca vejo o que os outros estão a fazer, porque isso significa que é algo que já está feito, e eu preciso é de encontrar a minha própria maneira de o fazer, a minha própria forma. Em todo o caso, para mim, o que é mais importante é a vida. O que importa é partilharmos o que estamos a sentir, aquilo de que temos medo, o que desejamos. Isto é o mais importante. Não tanto no sentido privado, pessoal, individual, mas sim no de todos nós, no sentido colectivo. Se cada um for ao fundo dos seus sentimentos, acredito que há uma linguagem que todos partilhamos, que todos falamos e na qual todos nos entendemos e nos encontramos. É dança, é movimento, mas é também tudo o que nos ajuda a expressar melhor aquilo que nos move.

...


Um vídeo com um excerto da peça Masurca Fogo - "uma peça que representa um tempo inesquecível e importante, que passámos em Lisboa" (Pina Bausch na entrevista Pina Bausch: um festival de dança-teatro):



Um vídeo em jeito de trailler da peça Vollmond:



Um vídeo com um momento da peça Café Müller (para ver até ao fim!):



Um vídeo com um excerto da peça A Sagração da Primavera (música de Igor Stravinsky):



segunda-feira, 13 de julho de 2009

Danças Tradicionais ...a tradição já não é o que era!?...


Muitos de vocês já me ouviram falar das Danças Tradicionais. De cada vez que eu falo sobre as Danças Tradicionais a alguém que ainda não as conhece, acabo sempre por ter que escrever um e-mail a explicar o que são, e à procura dos links e dos vídeos de sempre para lhe enviar.
Este post serve para não ter que andar sempre a repetir esse processo, da próxima vez basta mandar o link para este post.
Para começar, fica o aviso de que eu não sou nenhum entendido na matéria das Danças Tradicionais, sou um amador que como muitos outros gostam de ir aos concertos/bailes ouvir e dançar essas tais músicas tradicionais ("reinventadas" pelas - e para as - gentes de hoje), num ambiente informal, divertido e descontraído.
Os vídeos que se seguem são uma selecção pessoal. A verdade é que não há muitos vídeos, talvez porque as pessoas estão tão entretidas a dançar que não se lembram e/ou não se dão ao trabalho de filmar as danças.

Para começar um vídeo que responde àquela primeira pergunta que toda a gente me costuma fazer: Mas que tipos de danças?



Pois bem, ouviram que há muitos tipos de dança, eu também não os conheço todos. Esses tipos todos podem-se agrupar em duas categorias: as danças de grupo e as danças a par.

Com exemplo de danças de grupo, aqui fica um Círculo durante o concerto dos Fol&Ar no Festival Planície Mediterrânica:



Agora, como primeiro exemplo de danças a par aqui fica um vídeo duma Scottish numa Jam ao ar livre, no Largo do Carmo (Lisboa), agora chamadas de NoiTradas do Carmo - pois é, também se dança na rua!



Para terminar, dois vídeos de Mazurka, o primeiro num Concerto dos Monte Lunai em Oeiras e o segundo no Festival Entrudanças:





Espero que tenham gostado dos vídeos, mas o melhor mesmo será irem a um concerto/baile ouvir, ver e experimentar dançar. Algumas das danças, sobretudo as de grupo, são relativamente fáceis de aprender no momento (vendo os outros) - não é obrigatório saber dançar para experimentar! É claro que depois se gostarem vão querer aprender mais e melhor!

Para mais informações sobre as Danças Tradicionais (as músicas, as danças, a tradição, onde aprender, agenda dos concertos/bailes, festivais, etc) - TradBalls ... a tradição já não é o que era!?... - http://www.tradballs.blogspot.com/.

sábado, 11 de julho de 2009

"Casimiro de Abreu", prólogo de F. D. Ramalho Ortigão ao livro "As Primaveras" de Casimiro de Abreu


Os comentários/questões que recebi em relação ao poema (O que é - Sympathia), livro (As Primaveras) e autor (Casimiro de Abreu) mencionados no post Poema, "O que é - Sympathia", Casimiro de Abreu levaram-me a acelerar a escrita deste post. Pois, parece-me que a melhor maneira de responder a essas questões é mostra-vos o prólogo de F. D. Ramalho Ortigão ao livro. O autor deste prólogo, Francisco Duarte Ramalho Ortigão, foi irmão do (mais conhecido) José Duarte Ramalho Ortigão. Eu não consigo encontrar a data em que este prólogo foi escrito, mas deduzo que terá sido no período entre as mortes de Casimiro de Abreu e de F. D. Ramalho Ortigão (entre 1860 e 1920).
Como sempre, deixo os meus comentários para o fim, para que voçês possam ler e criar a vossa opinião primeiro. Mas se eu me dei ao trabalho de escrever isto tudo para o computador (não existe na internet!) é porque acho que é um texto verdadeiramente interessante.
Assim sendo, aqui vos deixo um excerto do prólogo de F. D. Ramalho Ortigão ao livro As Primaveras de Casimiro de Abreu (5ª edição, 1925; LELO & IRMÃO, Ltd. - Editores):

Casimiro de Abreu
Porque disparam em occasião de riso tantas nenias engenhadas para arrancar lagrimas dos olhos e desentranhar suspiros do peito?
Porque sahe pueril e ôca a ode que tenta decifrar essas tristezas suavissimas que a perfumada aragem da saudade traz, em tropel, dos jardins do passado para adejarem em confusa nuvem sobre o nosso espirito, assim como no cabeço de solitario penhasco se esvoaça á hora do sol poente a revoada de aves marinhas advindas no equinocio de região longinqua?
Porque redunda em striduo fragor de palavras o hymno patriotico que dá no ouvido a toada e não verte dentro o succo do enthusiasmo, o qual, ao primeiro rebate da musa epica, devia logo pollular nas veias, retremer nos musculos, trovejar no cerebro?
Porque descahe em vulgaridade chocha, que faz sorrir ou descrêr a mulher, a palavra do amor, que lhe devia cahir na alma, como em labio febricitante a fresquissima gotta do orvalho matutino, que refrigera e delicía, sem matar a sêde, sem estancar a ancia, sem apagar a febre?
E' porque nem é de afflicto essa tristeza, nem de de melancholico essa mágoa, nem de apixonado essa paixão, nem de amante esse amor.
Para ser poeta é preciso ter fé em alguma coisa, disse Garrett, e então consignou em breve termo o aphorismo porque deviam principar todas as artes poeticas.
Antes de lêr Aristoteles, Horacio, Vida e Despreaux, antes de perguntar á intelligencia se ella póde com o alimento que ha de enrijal-a, antes de a ungir para a lucta com os ungentos da immortalidade, cumpre interrogar o coração, porque é lá que deve existir o principal elemento que constitui os poetas. Revela acreditar seja em que fôr: no heroismo como Homero, na patria como Camões, na gloria como Tasso, na religião como Milton, na duvida como Biron, na liberdade como Hugo, na familia como Lamartine; na vida ou na eternidade: Horacio ou Dante, a realidade ou a visão. Mas cumpre acreditar de dentro e do intimo com uma convicção entranhada e profunda, d'essas que instam, pungem, abalam, decidem, e quando chegam a revelar-se não se traduzem pela palavra, antes pelo grito. Não é placidez oratoria compassando a dicção, aparando o metro, sopesando a figura, joeirando o vocabulo; é o impeto, é o arrobo, é a audacia, palpitando no labio, fuzilando nos olhos, latejando nas fontes. A creacção intellectual póde em tal conjunctura não ser rigorosamente metrica, mas poetica ha de ser por força. E antes isso: antes a poesia sem o verso do que o verso sem a poesia; antes verdadeiro poeta pelo coração do que eximio versejador pela cabeça.
Casimiro de Abreu, auctor d'este bello livro das Primaveras, que eu acabo de fechar, suscitando-me as refexões que deixo escriptas, é d'ellas o melhor exemplo. Desconhece os segredos da linguagem com que se confeita a pobreza do espirito, não estudou em alheios moldes a forma em que tem que vasar-se a inspiração, não aprendeu a mechanica da palavra nem o contraponto da versificação. Não é um genio desenvolvido nem um grande litterato; é uma grande alma e um grande infeliz. Não verseja, poeta; não canta, suspira, lamenta-se, chora. Diz-nos singelamente o que sente, dá-nos em cada verso um sorriso ou uma lagrima, em cada strophe um pedaço da sua alma, e sem o querer, sem o pensar, talvez, offerece-nos no seu livro das Primaveras, mera colecção de poesias fugitivas, o completo romance d'um coração, um poema inteiro, cujo heroe é o auctor.
O argumento d'esse livro, em um só canto, conciso e breve como a dôr intensa, é o summario da biographia exacta do poeta.
...
Se Casimiro d'Abreu alliasse uma educação litteraria á pura sensibilidade da sua alma, á elevação do seu espirito, á clareza do seu criterio, e ao pendor da sua indole profundamente melancholica e scismadora, abalanço-me a dizer que o seu nome seria hoje o do mais perfeito poeta que tem botado a moderna geração litteraria em Portugal e no Brazil.
Casimiro d'Abreu tem vinte annos! e o seu livro exhala de todas as folhas o perfume suavissimo d'esse madrugar da existencia tão esplendido sempre de luz e de harmonia, d'enthusiasmo e d'amor...
Oh! dá que eu saude a tua memoria, meu divino rapaz, que tiveste a coragem de o ser, e de tal te prezares n'este seculo em que se finge a duvida, o desalento, e a descrença aos dezoito annos! n'este seculo em que não ha convivas ao alegre banquete da mocidade, porque os imberbes tomam o seu café e palitam os dentes em jejum! n'este seculo em que o espirito impotente tomou por moda descórar os beiços e pintar pés de gallinha ao canto dos olhos!...
Bem hajas tu, que foste verdadeiramente poeta no meio dos sensaborôes, porque verdadeiramente foste sincero entre os presumidos!
...
Pouco tempo depois Casimiro d'Abreu exhalava o seu ultimo suspiro, contando 22 annos!
O livro que deixou ahi esta. E' o poema duma existencia, baseado nos mais singelos elementos de poesia: viver soffrendo, amar esperando, e morrer sorrindo.
F. D. Ramalho Ortigão

Eu acho este texto extraordinário! Nele se encontra uma das melhores, senão mesmo a melhor das, definições/explicações do que é a poesia e do que é ser poeta, que eu conheço. Aliás, lido com um olhar mais aberto este texto retrata uma verdadeira filosofia de vida.
Eu evitei destacar algumas partes do texto, para não influenciar a vossa leitura - e também porque acabaria por destacar (quase) todo o texto! Mas não resisto a chamar a atenção para algumas expressões/ideias deliciosas - para ler com o tal olhar mais aberto, pois não se referem apenas à poesia, mas à vida no seu todo!:

  • Para ser poeta é preciso ter fé em alguma coisa, disse Garrett, ...
Almeida Garrett em Viagens na minha terra, Capítulo VI: É preciso crer em alguma coisa para ser grande - não só poeta - grande seja no que for.

  • Antes de ... perguntar á intelligencia se ella póde com o alimento que ha de enrijal-a ..., cumpre interrogar o coração, porque é lá que deve existir o principal elemento que constitui os poetas.
  • Revela acreditar seja em que fôr ... Mas cumpre acreditar de dentro e do intimo com uma convicção entranhada e profunda, d'essas que instam, pungem, abalam, decidem, e quando chegam a revelar-se não se traduzem pela palavra, antes pelo grito.
  • ... antes a poesia sem o verso do que o verso sem a poesia; antes verdadeiro poeta pelo coração do que eximio versejador pela cabeça.
  • Não é um genio desenvolvido nem um grande litterato; é uma grande alma e um grande infeliz. Não verseja, poeta; não canta, suspira, lamenta-se, chora.
Notem que aqui (Não serseja, poeta) a palavra poeta está a ser usada como a 3ª pess. sing. pres. ind. do verbo poetar.

  • Bem hajas tu, que foste verdadeiramente poeta no meio dos sensaborôes, porque verdadeiramente foste sincero entre os presumidos!
  • O livro que deixou ahi esta. E' o poema duma existencia, baseado nos mais singelos elementos de poesia: viver soffrendo, amar esperando, e morrer sorrindo.

Para terminar, devo confessar que (pelas razões acima mencionadas) este prólogo de F. D. Ramalho Ortigão foi a parte que mais gostei do livro As Primaveras de Casimiro de Abreu. Nele estão alguns dos maiores elogios que um poeta pode receber e Casimiro de Abreu será eventualmente merecedor deles. Mas convém recordar que Casimiro de Abreu, como muitos outros (ultra-)românticos, morreu novo, de tuberculose. Hoje já há tratamento para a tuberculose, mas mesmo assim, aqui fica um conselho para os (ultra-)românticos:

  • Romantismo SIM, MAS temperado com Realismo (ou vice-versa)!
  • (Ultra-)Romantismo Irreal e Enclausurado NÃO!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Poema "Um punhado de palavras", Ana Paula Mateus



Um punhado de palavras

Trago um punhado de palavras
guardadas nas mãos em concha.
Encontrei-as nos livros, ditas pelos poetas...
Li-as nas estrelas... Emprestaram-mas os deuses...
Roubei-as à tua boca.
São palavras brilhantes, luminosas,
palavras de riso claro,
sussurradas ao ouvido no instante do abraço,
palavras ardentes, soltas
no beijo dado com a urgência da saudade.
São palavras perfumadas,
cheiram a eucalipto orvalhado pela manhã,
cheiram a velas queimadas em dia de aniversário,
cheiram a terra molhada
e a relva acabada de cortar...
São palavras musicais, como um espanta-espíritos
em dança vadia com o vento ao cair da tarde...
Foram escritas na areia da praia,
sobrevivendo aos vendavais
e aos pés descalços dos caminhantes,
à fúria das gaivotas e ao abraço salgado
das ondas inconstantes...
São fortes e indeléveis.
São eternas as minhas palavras.

E quando às vezes me engano na estrada
ou me perco nos caminhos,
quando sinto os passos cansados ou inseguros,
sento-me na berma e olho-as de frente,
tatuadas na pele gasta das mãos calejadas...

Leio-as muitas e muitas vezes...

Repito-as baixinho...
E passa-me o frio cá dentro.

Ana Paula Mateus

Este poema, "Um punhado de palavras", foi o poema vencedor da XIII Edição do Concurso Literário "Dar Voz à Poesia".

Fonte: blogue De Profundis, post Dar Voz à Poesia.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tango Na Rua - Milonga no Miradouro das Portas do Sol, Quarta-feira, 8 de Julho, 21:30h



Tango Na Rua - Milonga no Miradouro das Portas do Sol

Quarta-feira, 8 de Julho, das 21:30h às 24:00h

Entrada livre e gratuita


domingo, 5 de julho de 2009

Poema, "O que é - Sympathia", Casimiro de Abreu



O que é - Sympathia

A UMA MENINA

Sympathia - é o sentimento
Que nasce n'um só momento,
Sincero, no coração;
São dous olhares accesos
Bem juntos, unidos, presos
N'uma magica attracção.

Sympathia - são dous galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe ás vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gemeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dous amantes,
Duas lyras similhantes,
Ou dous poemas iguaes.

Sympathia - meu anjinho,
E' o canto do passarinho,
E' o doce aroma da flôr;
São nuvens d'um céo d'agosto
E' o que m'inspira teu rosto...
- Sympathia - é - quasi amor!

Casimiro de Abreu (1857)

Para aqueles que ontem me viram "vagabundear" com um livro vermelho antigo na mão: esse livro é "As Primaveras" de Casimiro de Abreu e este é um dos poemas que se podem lá encontrar.

sábado, 4 de julho de 2009

RAVE de TANGO na L. E. TANGO!, Sábado, 4 de Julho, 22h - 03h



RAVE de TANGO na L. E. TANGO!

Baila a equipa da L. E. TANGO

Juan e Graciana
Hamilton e Sofia
Rui e Inês

Surpresas, Sorteios, Djs!

Sábado, 4 de Julho, 22h - 03h


Preços: 5€ (inscritos na escola), 8€ (não inscritos).

L. E. TANGO | Lisboa em Tango - Escola Argentina de Tango
Clube Ferroviário de Portugal,
Rua de Santa Apolónia, 59,
Lisboa


Poema "MARIA, A CEIFEIRA", Soares de Passos



MARIA, A CEIFEIRA

(IMITAÇÃO DE UHLAND)

«Bons-dias, Maria: da lida do prado
«Nem mesmo te afastam cuidados d'amor,
«Se ao fim de três dias mo deixas ceifado
«A mão do meu filho te quero propor.»

Promessa é do rico, soberbo rendeiro:
Maria, oh! quão ledo seu peito bateu!
Seus olhos brilharam, seu braço ligeiro
Mais forte nas messes a foice moveu.

Soou meio-dia: que ardente secura:
Já todos demandam a fonte, o pinhal;
Somente nos ares a abelha murmura:
Maria não pára, que é sua rival.

O sol esmorece, bateram trindades:
Debalde o vizinho lhe grita: bastou!
Zagais e ceifeiros se vão às herdades
Maria, coa foice, lidando ficou:

O orvalho desliza; desponta a seu turno
A estrela no espaço, na selva o cantor;
Maria, insensível ao bardo nocturno,
A foice incansável agita ao redor.

Os dias e as noites assim por tais modos,
Nutrida d'amores, mal sente passar,
Três dias findaram: oh! vinde ver todos
Maria ditosa d'esp'rança a chorar.

«Bons-dias, Maria; já tudo ceifado!
«Lidaste deveras: a paga hás-de ter.
«Enquanto a meu filho, foi graça o tratado;
«Quão loucos e simples o amor nos faz ser!»

Tal disse, e passava... no peito constante,
Ai pobre Maria, que transe cruel!
Teu corpo formoso tremeu vacilante,
E exausta caíste, ceifeira fiel.

Um ano a coitada, sozinha consigo,
Vivendo de frutos, vagou sem falar...
No prado mais verde cavai-lhe o jazigo:
Ceifeira como esta jamais heis de achar.

Soares de Passos

Anna Bessonova Dança ... Ginástica Rítmica, Tango, ...


Alguns de vocês mostraram-se muito admirados com o facto de eu incluir ginástica rítmica nos meus interesses (O primeiro post - Acerca do blogue) e de associá-la à dança. Os vossos comentários são muito bem-vindos e eu vou tentar responder-lhes sempre que possível. Desta vez os vossos comentários aceleraram a escrita deste post sobre ginástica rítmica (que já andava na minha cabeça à algum tempo). Portanto, e em jeito de resposta aos vossos comentários, aqui vos apresento as razões pelas quais eu gosto de ginástica rítmica. (Vejam os vídeos com som, porque a música é muito importante!)


O meu gosto pela ginástica rítmica surgiu ao ver esta interpretação da Anna Bessonova (Anna Bessonova Amazing Hoop 2008 Miss Valentine):


Bem, se depois de verem este vídeo não perceberam o meu gosto pela ginástica rítmica, acho que não há palavras que me valham. De qualquer modo, aqui fica uma tentativa. Há atletas, como a Anna Bessonova, que têm uma tal fluidez, continuidade e musicalidade nos movimentos que conseguem transformar um exercício de ginástica rítmica numa verdadeira peça de dança - e assim deixam de ser apenas atletas e passam a ser também artistas. Aliás, na minha (modesta) opinião, a Anna Bessonova é a melhor a fazer essa transformação - é uma artista extraordinária!

Na realidade, a primeira vez que vi a Anna Bessonova (e esta sua interpretação) foi numa taça do Mundo de Portimão - em directo pela televisão. Dessa vez ela cometeu um erro (técnico) brutal: falhou aquela (dificílima) recepção do aro com os pés (no chão) após um logo lançamento (minuto 1:24 do vídeo anterior) e o aro saiu disparado para fora do tapete/praticante.
Depois, embora evidentemente desolada, levantou-se rapidamente, foi buscar o aro e continuou/terminou o exercício. Mas continuou-o e terminou-o de uma forma fenomenal! Provavelmente movida por um misto de desprendimento (já não tinha nada a perder!) e de revolta (por ter cometido o erro). Para mim, essa foi a melhor interpretação que eu já vi!
Nunca pensei que o imperfeito conseguisse ser mais belo que o perfeito! Noutro ponto de vista, foi a imperfeição (o erro) que deu origem à perfeição, à beleza!
Infelizmente já não consigo encontrar esse vídeo. Mas deixo-vos aqui um outro (Anna Bessonova - EF hoop WC Portimão 2007) em que ela também comete um erro (desta vez logo ao início) e também se nota esse misto de sentimentos de desprendimento e revolta no resto da interpretação, sobretudo no final, em que ela se deixa cair (no vídeo anterior - uma interpretação quase perfeita - esta queda final está mais artificial).



Para terminar, duas interpretações de dança fabulosas, realizadas em Galas de ginástica rítmica.

Anna Bessonova, Natalia Godunko, Galina Shirkina e Victoria Antonova interpretam "Shape of My Heart" na Gala da Deriugina Cup 2006 na Ucrânia ("Shape of My Heart" Bess, Nata, Galina, Vika 2006 DCup).



Anna Bessonova interpreta "Libertango" na Gala da (World Cup) Deriugina Cup Naftogaz 2007 na Ucrânia (Anna Bessonova - DC 2007 Gala):


Poema "ESCADA SEM CORRIMÃO", David Mourão-Ferreira



ESCADA SEM CORRIMÃO

É uma escada em caracol
e que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
mais estragados estão.
Nem sustos, nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
o lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Correm-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
a escada sem corrimão.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Milonga no Chapitô com música ao vivo, Quinta-feira, 2 de Julho, 22:00h


Milonga no Chapitô

com música ao vivo de

Quinta-feira, 2 de Julho

das 22:00h às 2:00h

Entrada livre



quarta-feira, 1 de julho de 2009

Poema "Segue o teu destino", Ricardo Reis



Segue o teu destino


Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.


A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós próprios.


Suave é viver só.

Grande e nobre é sempre

Viver simplesmente.

Deixa a dor nas aras

como ex-voto aos deuses.


Vê de longe a vida.

Nunca a interrogues.

Ela nada pode

Dizer-te. A resposta

Está além dos deuses.


Mas serenamente

Imita o Olimpo

No teu coração.

Os deuses são deuses

Porque não se pensam.


Ricardo Reis

(heterónimo de Fernando Pessoa)


terça-feira, 30 de junho de 2009

Poema "A estrada que não foi seguida" - "The road not taken", Robert Frost


Versão traduzida para português por José Alberto Oliveira:


A estrada que não foi seguida

Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava,
Quando se perdia entre os arbustos;

Depois tomei a outra, igualmente bela
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora, na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,

E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabendo como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.

É com um suspiro que agora conto isto,
Tanto, tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu -
Eu segui pela menos viajada
E isso fez a diferença toda.

Robert Frost
(Trad.: José Alberto Oliveira)


Versão original (em inglês):


The road not taken

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
two roads diverged in a wood, and I --
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost

domingo, 28 de junho de 2009

Wolfram|Alpha - motor de busca inovador - a computação do conhecimento ao alcance de todos


O Wolfram|Alpha (um produto recente da Wolfram) é um motor de pesquisa inovador, surpreendente e ambicioso que pretende tornar a computação de todo o conhecimento do Mundo ao alcance de todos.
Basta escrever a questão/problema em linguagem corrente, não é preciso (embora também se possa) usar uma linguagem técnica. Podem-se introduzir desde as questões mais simples (ex: apenas um nome dum país ou pessoa) até às mais complexas (cálculos matemáticos). As questões podem ser das mais diversas áreas, Ciência, Cultura, Economia, História, Música, etc. É claro que o Wolfram|Alpha não consegue responder a tudo (e ainda parece só funcionar em inglês), mas consegue coisas verdadeiramente surpreendentes.
Com isto tudo, não me admirava se o Wolfram|Alpha viesse a ter tanto sucesso como a Wikipedia ou a Google!

A primeira impressão que tenho (também só conheci o Wolfram|Alpha agora) é que a novidade do Wolfram|Alpha está na combinação de:
- uma rápida aplicação de internet;
- que (através das técnicas adequadas) consegue reconhecer uma pergunta escrita em linguagem corrente e transformá-la num problema matemático/computacional;
- para depois aceder a diversas bases de dados de todo o Mundo e recolher as informações potencialmente úteis e necessárias;
- e, finalmente, usar o Mathematica (o principal produto da Wolfram, com mais de 20 anos de experiência), para fazer os cálculos computacionais e apresentar as respostas/resultados potencialmente interessante;
- e isto tudo num piscar de olhos!

Posto isto, e depois de revelar a minha admiração por esta "nova tecnologia", convém ressalvar que o Wolfram|Alpha, embora possa ser uma ferramenta muito útil, não é a solução para todos os nossos problemas, porque:
- antes de fazer uma pergunta é preciso saber o que se quer perguntar!;
- e depois de saber o que se quer perguntar é preciso saber qual é a melhor forma de colocar/enquadrar/definir a pergunta (e aqui não falo da sintaxe, mas sim dos conceitos)!;
- e depois de definida a pergunta, ao tentar respondê-la, usando informações e técnicas matemáticas/computacionais já existentes, é preciso saber da natureza dessas informações e desses métodos para confirmar se são adequados/aplicáveis à nossa questão (toda a informação e todos os métodos têm o seu domínio de aplicabilidade, fora do qual não são válidos!);
- e depois de obtidos os resultados computacionais, é preciso saber interpretá-los, compreendê-los, fazer sentido deles!;
- e, finalmente, será todo este conjunto (dados e métodos usados, resultados obtidos e sua interpretação), que será a resposta à nossa pergunta!
(E assim, sem querer, quase que resumi a essência do método científico! Faltaria apenas acrescentar que: uma pergunta nunca tem uma resposta definitiva, pode sempre surgir uma nova resposta que, sendo mais correcta/completa, substitui a antiga; e que cada resposta a uma pergunta aumenta o nosso conhecimento e suscita na nossa curiosidade ou na nossa necessidade nova(s) pergunta(s) que nos levam a recomeçar todo o processo!)

Esta ressalva parece-me ser válida não só para o Wolfram|Alpha, mas também para todas as outras ditas "novas tecnologias" que às vezes parecem prometer milagres: sejam as "high throughput technologies" em ciência, ou as "novas tecnologias" no ensino, ou as "novas" e as mesmo "não tão novas tecnologias" que usamos no nosso dia-a-dia! No entanto, infelizmente, parece que há pessoas que não têm esta ressalva em mente!

Agora, depois de (também) terem lido o meu "sermão", o melhor mesmo será experimentarem por vocês próprios o Wolfram|Alpha: http://www03.wolframalpha.com/ (eu também já o acrescentei neste blogue - barra do lado esquerdo!).

Poema "Para ser grande, sê inteiro: nada", Ricardo Reis



Para ser grande, sê inteiro: nada

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive

Ricardo Reis
(heterónimo de Fernando Pessoa)

sábado, 27 de junho de 2009

Fado dançado com Tango (ou vice-versa), vídeos extraordinários


Juan Capriotti e Graciana Romeo dançam o "Fado do Campo Grande" (música: António Vitorino d'Almeida), interpretado pelo Quarteto Dzvin, na Gala "Juntos na diversidade" - Ano Europeu do Diálogo Intercultural (Teatro Camões, Lisboa), no dia 18 de Dezembro de 2008 :



Fernando Jorge e Alexandra dançam o Fado "Cansaço" (interpretação: Amália Rodrigues, Composição: Joaquim Campos / Luís Macedo), no III Festival Internacional de Tango do Porto, em 2008 - "Fado bailado con tango o viceversa":



Juan Capriotti e Graciana Romeo dançam o Fado "Sopra demais o vento" (interpretação de Camané, poema de Fernando Pessoa), no Festival Internacional de Tango de 2005:



Fadonga - o (único) sítio onde se pode dançar o Fado (cantado ao vivo) com Tango! A próxima Fadonga é hoje à noite (post anterior: Fadonga no Teatro Ibérico, Sábado, 27 Junho, 23:00h):


Fadonga no Teatro Ibérico, Sábado, 27 de Junho, 23:00h



Fadonga

Sábado, 27 de Junho de 2009, 23h00

Teatro Ibérico, Lisboa

Preço: 6 euros

Para quem ainda não conhece, eu diria que uma Fadonga é uma Milonga de Fado, onde o Fado, cantado ao vivo, é dançado com a técnica do Tango. A Fadonga é por isso um evento único, onde se pode ouvir, ver dançar e/ou dançar o Fado. Infelizmente as Fadongas são um pouco raras, só acontecem uma vez por mês. A próxima é hoje à noite!

Vejam o convite para esta Fadonga no blogue da Fadonga, onde poderam encontrar também todas as informações sobre a Fadonga: http://www.fadonga.blogspot.com/.


Poema "Sábados", Jorge Luis Borges



Sábados


Lá fora há um ocaso, obscura jóia

engastada no tempo,

e uma recôndita cidade cega

de homens que não te viram.

A tarde cala ou canta.

Alguém descrucifica os anseios

cravados no piano.

Sempre a abundância da tua beleza.


A despeito do teu desamor,

a tua beleza

prolonga o seu milagre pelo tempo.

A felicidade mora em ti

tal como a Primavera num folha nova.

Não sou quase ninguém,

sou apenas o anseio

que se perde na tarde.

Em ti mora o prazer

tal como a crueldade nas espadas.


Carregando as persianas vem a noite.

Na sala tão severa, como cegos,

Procuram-se uma à outra as nossas solidões.

Sobreviveu à tarde

a brancura gloriosa da tua carne.

No nosso amor há uma pena

parecida com a alma.


Tu

que ainda ontem eras só toda a beleza

és agora também todo o amor.


Jorge Luis Borges


Fonte: Livro "Fervor de Buenos Aires" (1923).


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vídeo "Milonga na Estação do Rossio 24 Junho 2009", em complemento ao meu post anterior


Nem de propósito, depois de escrever ontem (25 de Junho de 2009) o post Um resumo das Milongas do Tango Na Rua (em vídeos), o Tango Na Rua (TNR) publicou hoje um novo vídeo. Um vídeo da Milonga na Estação do Rossio que aconteceu mesmo anteontem ("Milonga na Estação do Rossio 24 Junho 2009"). Por isso, em jeito de complemento ao meu post anterior, aqui vos deixo o vídeo, que tem uma melhor qualidade de imagem e uma maior duração que os anteriores:


E, uma vez mais, aqui deixo o meu Bem Haja a todos os organizadores e participantes das Milongas do TNR que, pela sua dedicação ao Tango, as tornam em eventos únicos e extraordinários!